quinta-feira, 31 de maio de 2007

Formas de Pensar


A Fabiola, leitora deste blog, fez um interessante post ontem. Para quem não leu, o post é curto e introduz a discussão.


Deixou a questão no ar e vou comentar por aqui, apesar de já ter deixado um comentário por lá. Ela lançou a pergunta se há diferentes formas de pensar. Eu acho que sim.


Acho que homens e mulheres pensam de formas diferentes. Também sou da opinião que diferentes áreas do conhecimento utilizam processos de raciocínio diversos. É uma questão de método e não de inteligência. A lógica jurídica é extremamente formal, enquanto que a lógica na área de exatas é mais linear. Fica fácil perceber esta diferença numa conversa entre um engenheiro e um advogado. Quantas vezes ouço perguntas de clientes que são obviamente ridículas, mas para quem pergunta não é, pois o sentido e a forma de pensar é diferente.


Vou dar um exemplo. Outro dia um cliente perguntou se depois de ter processado uma empresa que lhe devia, se poderia continuar a fazer negócios com a empresa processada. A resposta pode parecer óbvia para um advogado, mas para um engenheiro a questão não era tão simples. Já me acostumei com isto e mudo o discurso, ou a forma de explicar as coisas, conforme o interlocutor.


Isto nos leva ao ponto da comunicação, que gera tantos problemas entre homens e mulheres. Sei que a maioria dos leitores deste blog é composto por mulheres - pelo menos só vocês comentam - , e por isto vou tentar colocar um pouco de luz na discussão do ponto de vista masculino.


O homem é mais linear na forma de falar, o que talvez seja reflexo da forma de pensar, não sei. As mulheres conseguem pular de assunto para assunto sem concluir e depois de dar algumas voltas, chega ao ponto que quer chegar, como se fosse um espiral. Várias vezes tenho que insistir e pedir que minha interlocutora conclua: "afinal, o que aconteceu?" ou "aonde você quer chegar?".


Não me refiro apenas às palavras usadas, o que também gera certas confusões, mas à forma como se dialoga. Quem sabe deveríamos nos preocupar mais com o interlocutor e nos questionar se estamos sendo compreendidos, porque muitas vezes não estamos conseguindo passar adiante a mensagem que queremos. Estas falhas de comunicação geram desentendimentos e isto gera confusão e briga.


Quanto às roupas e cores, não me aventuro. Já sei que vocês nunca têm roupa para sair, nunca têm bolsas e sapatos suficientes e que há mais cores no universo além das cores do arco-íris. Isto permite que tenhamos mais opções de presentes para vocês!


(A imagem que ilustra este post é uma foto da escultura O Pensador, de Rodin)

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Dicas da Dani: John Legend

Após receber os prêmios Grammy de Melhor Álbum de R&B (2006), Melhor Intérprete Masculino de R&B (2006 e 2007) e Revelação do Ano (2006), por sua estréia com Get Lifted, John Legend está de volta com o álbum Once Again.

Once Again foi lançado no final do ano passado e contém 13 faixas de música da melhor qualidade. Heaven deu-lhe o Grammy este ano por Melhor Intérprete Masculino. John Legend é pianista e compositor. Suas composições sempre têm o piano ao fundo e comporiam um ótimo clima de lounge music.

No site oficial é possível ouvir todas as faixas do novo CD. Save Room e P.D.A. (we just don´t care) já tocam e fazem sucesso por aqui. O vídeo traz John Legend tocando PDA ao vivo no Royal Albert Hall.
Divirtam-se!


Rallye Urbano

Caminhar por São Paulo é uma aventura. Não me refiro à violência ou à questão da segurança pública, refiro-me às calçadas.

Não consigo entender por que as calçadas da cidade são tão mal cuidadas. Talvez não devesse nem usar a palavra calçada, pois há tantos buracos, que o calçamento já desapareceu. Com exceção da R. Amauri e da Oscar Freire, ilhas do luxo dentro da capital, as demais são uma lástima.

A Oscar Freire refez todo o calçamento no ano passado. Ficou ótimo. Há bancos novos e floreiras bem cuidadas e um calçada transitável. Alívio para as mulheres, de quem tenho pena ao vê-las se equilibrando com saltos no mosaico português da Av. Paulista.

Nem a Paulista escapa deste problema. Faz alguns anos, tivemos um caso no escritório de uma moça que caiu num buraco - isto mesmo, num buraco que estava sem tampa - na Av. Paulista e teve que entrar na justiça para ser indenizada pelos danos sofridos.

Quem sabe agora que o programa Cidade Limpa emplacou, não entremos no programa Calçada para Todos.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Crônica: Tarde no Café



No meio da tarde de sábado, final de verão, Pedro escolheu uma mesa perto da calçada, num simpático café da Rua Oscar Freire. Queria ver gente. Observar as pessoas. Analisar. Distrair-se com as divertidas figuras do coração do luxo e da elegância paulistana. Pediu um café puro e um pão de queijo. Deixou o livro recém-adquirido sobre a mesa, cruzou as pernas e preguiçosamente deixou seu olhar passear.

Passeavam pela calçada, ou melhor, desfilavam mulheres com sacolas, com cachorrinhos embonecados, com óculos escuros largos sobre a face, com amigas a falar e a gargalhar alto. Uma fauna de mulheres ricas, de peruas, de patricinhas, de todas as tribos urbanas e cosmopolitas. Umas medindo as outras de cima abaixo. Grifes caras e famosas e outras nem tanto. Uma variedade de roupas e estilos, de tamanhos e de rostos, de aromas de perfumes caros e de cores. Tudo se mesclava numa tela impressionista, sem precisão, como um emaranhado de sons, aromas e formas.

Pedro fitava-as discretamente, de relance. Começou pelos pés. Admirou-se com a variedade de sapatos, sandálias, unhas, pés que por ali passavam. Achava defeito em todos. Simpatizou com alguns. Mas algo incomodava-lhe.

Distraiu-se então com os rostos. Reparou nos cabelos, alguns longos, outros curtos, presos, soltos, loiros, ruivos e castanhos. Cortes variados, visuais esquisitos, outros elegantes, outros mais simples. “Qual o mais bonito”, perguntava-se. “Qual a forma da beleza?” Uma beleza abstrata rondava sua mente e não se materializava diante dele naquela tarde. Pensou em Platão e no mundo das idéias. “Seria a beleza perfeita algo inatingível, algo invisível, algo que somente pode ser criado em nossas mentes? Haveria um molde perfeito?” O molde de beleza de Pedro estava silente, escondido em seu inconsciente.

Continuou a observar de forma incessante a procura de algo que sabia existir, que sabia estar presente dentro de si ou no mundo exterior. Sentiu-se criando um Frankesntein feminino. Juntava partes e pedaços de mulheres, misturava estilos e roupas, mas nada lhe apaziguava o espírito. Inquieto não desistia em sua busca.

Estava ali há mais de uma hora e meia, quando uma moça perguntou-lhe se queria mais alguma coisa. Despertou do transe ao ouvir a indagação. Olhou-a e o reflexo da luz sobre um ponto brilhante que repousava sobre o nariz da funcionária alvejou-o como um raio. “Por isso encontrava defeito em todas as mulheres!”, disse a si mesmo. “Você é e sempre será única. Não há substituta, não há outra igual a você. Nunca serei indiferente ao seu nome. Sempre que o ouvir, lembrarei de ti. Sempre!” O pequeno piercing acima da narina esquerda havia trazido Pedro de volta à realidade. Pediu mais um café e sorriu. Encontrara o que buscava.

domingo, 27 de maio de 2007

Túnel do Tempo

Depois de uma semana de preguiça ao deixar de lado minha caminhada na esteira e de um sutil puxão de orelha, neste final de semana voltei à rotina do meu exercício. E vou criar coragem para levantar cedo ao menos 1 dia durante a semana...mesmo com o frio.

Não sou muito fã de ginástica e de exercício, se bem que ganhei gosto pela caminhada, algo que tenho feito desde setembro do ano passado. Meu iPod é um dos responsáveis por esta perseverança. Esportes coletivos não são meu forte, pois sou um péssimo jogador de futebol e por isto sempre preferi os esportes individuais. Treinei natação de forma séria na adolescência e agora voltei com a caminhada. Faz bem ao coração e fujo do sedentarismo. Bom, mas o que o título deste post tem a ver com isto? Calma, eu chego lá.

Tanto ontem, como hoje, fui caminhar no final da tarde. Céu ainda azul, mas o sol ia se pondo. Música ligada, cenário de entardecer e eu entro em transe. Viajo naqueles 40 a 50 minutos que são só meus. Momentos para pensar, ouvir música, escrever alguns textos mentalmente....e quantas vezes já não tive idéias e aprontei surpresinhas que surgiram nestes momentos de recolhimento. Ontem, ouvi uma música - a versão que tenho no iPod é da Madonna - que me transportou no tempo.

A música é American Pie e o vídeo, na versão original, está abaixo. Voltei 20 anos no tempo para um período que morei nos Estados Unidos. Esta música me lembrou os bons momentos dirigindo com amigos, deixando o tempo passar preguiçosamente no verão quente sem ter nada com que se preocupar...lembrei da neve e do frio, dos dias gelados e de pouca luz, das descobertas da adolescência, dos "foras" (no plural, pois foram vários) dados por meninas, das conquistas e das tristezas. Foram 4 anos, dos 13 aos 17. Foi uma ótima experiência. Amadureci mais cedo ao ter que enfrentar situações novas e inesperadas.

Nesta viagem no tempo, lembrei-me de um professor de literatura. Mr. William Daly era o nome dele e lecionava um curso de Literatura Ocidental. Isto foi no 2o. colegial, lembrando que nos EUA o ensino médio tem 4 anos de duração. Naquele ano de 1986 aprendi a ler. Descobri a beleza de um romance, a importância de ler e escrever. De forma ainda superficial, própria da idade, mas foi meu primeiro contato com Henry David Thoreau, Robert Frost, Walt Whittman, Shakespeare, Ibsen, Sófocles e Hemingway, para citar alguns. Um novo mundo descortinou-se diante de mim. Atribuo a este professor uma guinada fundamental na minha vida. Até aquele ano queria ser engenheiro, mas foi naquele curso que resolvi seguir a carreira jurídica. Ganhei gosto por ler e escrever.

Tudo isto por causa de uma música. Uma música que marcou minha adolescência. Uma música que marcou aquele período. Há 2 outras músicas que me levam de volta a Midland toda vez que as escuto. Tocaram numa festa de despedida, um dia antes de voltar para o Brasil em janeiro de 1988. As músicas são Don't You Forget About Me (Tears for Fears) e If You Leave (Nada Surf). Esta segunda não ouvia há anos e mal lembrava dela. No ano passado, uma amiga me enviou a música achando que iria gostar. Acertou em cheio!

Deixo-os com American Pie.


sexta-feira, 25 de maio de 2007

O Mundo dos Blogs



O mundo de hoje permite uma comunicação instantânea, em tempo real. Motivo de stress para alguns e alegria para outros. A internet e os blogs mudaram a forma das pessoas se comunicarem. Notei algo que achei interessante desde que comecei este blog. Há uma pequena comunidade de leitores que navegam em blogs semelhantes, comentam e conversam sem nunca terem se visto.


Os blogs, incluo o meu, viraram um ponto de encontro virtual de pessoas com interesses comuns. Isto não quer dizer que todos tenham a mesma opinião ou que concordem com tudo que os outros escrevem. Mas discutem, debatem, comentam, discordam. É uma forma nova de se fazer companhia, de conversar. Não estamos reunidos numa mesa de bar ou numa sala de estar. Estamos reunidos em torno de um site que permite contatos diários. Um jeito de interagir de maneira construtiva. Há uma força imponderável na forma como nos comunicamos e divulgamos nossas idéias, nossas vidas, nossos pensamentos.


A blogosfera permite interagir sem sair de casa. Não se trata de ser anti-social ou um nerd escondido por detrás da tela do computador. Porém, é um jeito de perceber que somos todos iguais, com aflições, alegrias, ansiedades, angústias semelhantes.


Leio vários blogs, principalmente blogs escritos por mulheres. As mulheres escrevem mais e se abrem mais nos blogs, o que permite conhecer um pouco destas aflições que nos atingem. Digo nós na categoria de pessoas com mais de 30 anos. Fiquei impressionado como há semelhanças no que é dito. Não digo cópias ou plágios, digo na questão sentimento e forma de ver a vida. As incertezas acerca do futuro. Nossa geração chegou aos 30 e agora revê conceitos, enfrenta novos desafios e problemas, tanto no âmbito social como no âmbito psicológico.


O bom do blog é que ele permite conhecer as pessoas pelas palavras. E as palavras não escondem o que sentimos e pensamos.


(Escrevi este post ouvindo Open Your Eyes, Snow Patrol. Nada mal para uma tarde de 6a. feira.)

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Poesia: SOB A LUA



SOB A LUA


Saudaste-me no céu do entardecer

Lua a iluminar o cair da tarde

Tarde de verão de meu natalício.

Contemplo-te imóvel a sonhar

Acelerando meu pobre coração

Que de saudade se aperta

Contorcido e amarrado pela dor

Pela ausência de ti que sinto

Fisicamente me contraio

Em posição fetal a chorar

Lágrimas que derramo por ti

Silenciosamente recluso.

A lembrança do teu sorriso

Pulveriza a dor

e a saudade

Transmuda meu estado

E sorrio para o luar

Lua que resplandece teu rosto

E reflete o brilho do teu olhar

E acalma minh´alma.


RLBF (29 jan 07)

Faltou explicar

Lendo os comentários percebi que cometi uma falha. Há 2 posts em abril com um resumo do livro e um breve trecho da obra. Deveria ter facilitado a vida do leitor e postado os links.

Agora corrijo o erro. A sinopse pode ser lida no post do dia 9 de abril ou clicando nos marcadores no final do post. Estes marcadores vão automaticamente mostrar os posts relacionados.

Obrigado pelos comentários e pelas visitas.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Volto com a discussão sobre A Trégua

Vou tirar logo da frente o tema que mais espinhoso. Não concordo com o protaganista acerca do período menstrual feminino, pode ficar tranquila. Na semana passada houve um post no blog Pensamento Nosso (minha vez de retribuir a gentileza) sobre TPM e há uma série de comentários sobre o que as pessoas acham. Pessoalmente, tenho mais paciência que o normal neste período. Agora, do ponto de vista profissional, ou seja, de trabalhar com mulheres, nunca notei nenhuma mudança na postura ou na conduta. Sempre trabalhei com mulheres ao meu lado e talvez uma ou outra fique mais irritadiça durante um período do mês, mas sempre relevei isto.

O livro poderia levar a muitas e muitas discussões. Isto é o que o torna tão universal, tão representativo da condição humana e atemporal. Lembrem-se que a obra foi escrita no final dos anos 50 e continua muito atual.

De fato, achei Santomé com uma visão rasa da vida, sem relevo, sem transcendência. A única meta na vida dele era a aposentadoria. Esqueceu de viver e isto inclui cuidar dos filhos, superar a perda da mulher e permitir que se coração descobrisse um novo amor. Acho que nossas opiniões são parecidas quanto à conduta do protagonista.

A descoberta de Avellaneda, porém, é o ponto fulcral. Evita o sentimento, quase repelindo-o. Mas o sentimento é mais forte que a razão. Santomé demora a se entregar à paixão e luta contra o sentimento, talvez por medo de viver uma nova perda, por medo da rejeição. Em dado momento decide-se assumir completamente aquele romance, sem antecipar a surpresa trágica que a vida lhe havia reservado. O final é triste. Avellaneda morre e Santomé se depara novamente com o luto, com a perda, com uma falta de sentido para sua vida. Hâ uma profunda revolta do protagonista com o destino de sua vida, uma revolta com Deus.

Penso que a mesma história poderia ser recontada do ponto em que Santomé perde a esposa. A dor e o sofrimento poderiam ter levado a uma maior união dos filhos com o pai e juntos superariam a dificuldade. Como diz o ditado popular: "Deus dá o frio conforme o cobertor". Dificuldades todos nós temos, a questão é como enfrentá-las. Santomé escolhe o caminho da revolta, o caminho de deixar a vida passar, esperando por algo.

Quando algo aparece e este algo é o amor por Avellaneda que descortina um novo horizonte diante de si, ele reluta, hesita. Teima em não fugir da rotina, da estabilidade, da inércia. O sentimento é mais forte e por alguns meses Santomé se vê jovem, vibrante, alegre novamente, tudo por causa de Avellaneda.

O livro permite muitas discussões e reflexões. E sou da opinião que todo livre tem algo a nos dizer, algo a nos fazer pensar e algo a nos acrescentar.

Discutindo A Trégua


Quando terminei de ler A Trégua, de Mario Benedetti, sugeri que alguma leitora do blog lesse o livro e desse sua opinião. A idéia era realmente permitir visões diferentes - ou não - do livro. Não queria fazer uma análise apenas do ponto de vista masculino, mas queria realmente ouvir a opinião do livro do ponto de vista feminino.


Primeiro então o que escreveu a Fernanda:


"Bom dia! Há algumas semanas vc lançou um desafio sobre o livro "A Trégua". Aceitei o desafio, li o livro, gostei muito e tenho alguns comentários a fazer.


Não achei o protagonista machista, a não ser em uma passagem, qdo ele comenta sobre como uma mulher fica "atarantada e completamente imbecil" no período menstrual. Acho que o imbecil é ele e ficarei extremamente desapontada se vc concordar com esse ponto de vista.


Além de ter uma visão muito pessimista da vida e de si mesmo, achei-o muito egoísta. Criou os filhos após a morte da mulher, mas fez isso como se fosse um peso, uma obrigação, daí a falta de relacionamento com os mesmos na fase adulta. A lembrança apagada que ele tinha da esposa, fez com que os filhos crescessem sem a imagem da figura materna e isso foi muito triste de perceber no livro.Parece-me que ele foi vivendo sua vida focado somente no dia em que iria se aposentar...não gostava do trabalho, não gostava das pessoas.


Quando conheceu Avellaneda sentiu renascer a chama da paixão, mas mesmo assim de uma forma completamente egoísta. Ele não vivia o presente...ficava preso na imagem da mulher morta, comparando-a com a atual e não se permitia viver essa nova paixão, pensando de como seria no futuro. Seus pensamentos eram sempre negativos e ele usava a desculpa de que estava poupando Avellaneda de um sofrimento, qdo na verdade o problema era sua falta de coragem.


Somente quando se deu conta da falta que ela lhe fazia, foi que resolveu tomar uma atitude, mas ai foi tarde demais. Mesmo nessa hora, seu pensamento foi egoísta...não pensou na vida tão jovem que foi interrompida, mas sim no resto da vida miserável que iria ter sem ela. Daí caímos nos seus últimos posts, sobre não fazer ou falar as coisas qdo sentimos vontade. Gostei do livro, muito, da forma que foi escrito, mas definitivamente não gosto de pessoas como o protagonista, que enxergam tudo de um prisma negativo e ficam vendo a vida passar sem realmente vivê-la.É isso, agora vamos ver seus comentários, sorriso"


Volto com meus comentários no próximo post.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Crônica: Prisma (2)

Luciana continuava presa numa odiosa reunião, trancada numa sala com um monte de pessoas discutindo um bendito plano de reorganização e redução de custos da empresa em que trabalhava. Envolta em planilhas e relatórios, tinha perdido a noção de tempo. Já estava atrasada para o encontro com Pedro e não estava nem um pouco interessada em ir. Havia confirmado e ela era pontual e não gostava de deixar ninguém esperando, mesmo que fosse o Pedro. Procurou seu celular entre os papéis sobre a mesa para lhe mandar um torpedo, mas o celular não estava lá. “Putz, deixei na minha sala!”, lembrou ela.

Aquilo tudo deixou-a aflita, com um senso de urgência. Precisava urgentemente de um telefone, de um celular, de um computador, de uma fumaça, enfim qualquer coisa para lhe mandar um sinal. Luciana conhecia bem a figura. Haviam tido um envolvimento emocional por alguns meses que não deu certo. Luciava via Pedro como um sujeito muito dependente, que lhe sugava emocionalmente. Ela queria um companheiro e não se transformar na terapeuta do namorado. Bem, eles ainda não eram namorados, mas eram íntimos. A iniciativa para o rompimento fora dela. Ela não queria vê-lo, mas aceitou por pura pena e compaixão. Sabia que iria ficar mal depois do encontro. Sabia que ele ia tentar beijá-la. Sabia que ela ia se desvencilhar dele no bar, não ia oferecer uma carona de volta até o hotel porque ele iria convidá-la para subir, ela ia dizer não, ele iria insistir ou dizer que tinha um presentinho para ela, ele lançaria aquele olhar sedutor e em poucos minutos ela estaria no quarto do hotel com ele aos beijos.

Ela estava convencida que precisava ser forte, afinal, ela o dispensara. Em alguns momentos até sentia saudade de Pedro, mas não queria que o relacionamento evoluísse. Não tinham futuro juntos na opinião dela.

Olhou no relógio. Uma hora de atraso. “Ele deve estar se corroendo naqueles devaneios malucos dele. Coitado. Estou sendo muito má! Mas ele que me encheu o saco para este encontro. E depois, é só um cano, nada demais. Nada que lhe arrase, nada de mais grave. Amanhã eu ligo para ele. Ele já ia ter que jantar sozinho mesmo.”, pensou ignorando por completo a enfadonha reunião que ocorria.

Conseguiu dar uma escapadinha para ir ao banheiro. Correu até sua mesa e pegou o celular. Estava sem bateria. Tentou lembrar de cabeça o telefone dele. Discou rapidamente para o celular dele. Sem resposta, direto na caixa postal. “Vai ver ele está ocupado e nem está me esperando.”, e desligou sem deixar recado.

Escreveu um rápido email para deixar registrado que não tinha esquecido do encontro. Nisso viu uma mensagem de Antônio. Seus olhos brilharam, o coração bateu mais forte e resolveu ler. Era uma mensagem curta. Apenas um recado no meio da tarde, sinal de que ele havia pensado nela. A mensagem de Antônio fez com que esquecesse de Pedro num pestanejar. Quando ia responder, o telefone tocou e seu chefe chamou-a de volta à reunião. Deixou sua mesa animada e renovada com aquela mensagem, com aquela carinhosa lembrança.

Clima e humor

Hoje está um dia chuvoso, friozinho e cinza em São Paulo. Um dia para ficar enfurnado sem sair para a rua. Tem gente que odeia frio, tem gente que odeia calor e tem gente que não está nem aí para o clima. Acho que o clima afeta o nosso humor. Uma sequência de dias cinzas começa a ser deprimente.

Como canta a Adriana Calcanhoto, "carioca não gosta de dia nublado". Eu também não, mas hoje o clima combina com um ar mais introspectivo. Um clima para ficar no meu canto, pensando na vida e escrevendo. Gostaria de poder ser senhor do meu tempo em dias assim. Ter o tempo todo, o dia todo, só para mim.

A realidade não permite isto, então vou esperar até o final do dia, para no silêncio do cair da noite escrever, pensar e sonhar.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Dicas da Dani: Dolores O´Riordan

Nesta semana será lançado no Brasil o primeiro CD solo de Dolores O´Riordan. Não sabe quem é? Então explicamos. Dolores era a vocalista dos Cranberries, banda irlandesa que tem entre seus sucessos Linger.

Linger faz parte da trilha sonora do filme "Letra e Música" com Hugh Grant e Drew Barrymore.

A primeira música de trabalho será "Ordinary Day", cujo clipe foi filmado em Praga, na República Tcheca, e está disponível no YouTube. A música foi inspirada no dia do nascimento de sua terceira filha, Dakota. O primeiro CD chama-se "Are you listening?" e tem pré-venda no Submarino .


sábado, 19 de maio de 2007

Crônica: Prisma



Pedro retornou ao hotel extenuado. Esperara por ela mais de 2 horas e nada. Nem uma ligação sequer, nem um recado. Nada. Seu orgulho não permitiu que ele ligasse. Seria orgulho ou seria um senso de derrota, um sentimento de rebaixamento, de fazer pouco caso de si mesmo? Tudo estava muito confuso, seus pensamentos obnubilados por aquelas horas sentado no bar no centro de Curitiba. Simplesmente esperando. Estava desconfortável no bar, envergonhado, ansioso, mas havia pressentido algo de ruim. Algo de negativo. Parecia que todos olhavam para ele e que todos sabiam que aquele homem havia levado um belíssimo “cano” de alguém. Em certo momento saberiam que ele esperava uma mulher, mas hoje poderia ser outro homem. Pedro não tinha traços efeminados e não levantaria qualquer suspeita. O burburinho deixava-lhe passar quase que despercebido, porém sentia-se como diante de um canhão de luz, como se estivesse sozinho no palco e tivesse esquecido o texto por completo.

Abriu a porta do quarto, escancarou a da varanda e debruçou-se sobre o parapeito. Suspirou lentamente. Uma certeza tomou-lhe a alma: era o fim. Seu coração chorava lágrimas profundas e apertava-lhe o peito. Soluçava num pranto que lavava-lhe a alma. A intuição que sentira naquela manhã, antes da viagem, agora se confirmava. Temia confrontá-la e viu-se agindo como Bentinho diante do suposto adultério de Capitu. Qual Dom Casmurro, Pedro iria decidir por si próprio. Iria fugir.

As lágrimas aos poucos secaram e não se ouviam mais seus soluços, nem seus gemidos. Pedro era covarde e desistia fácil. Não acreditava em si mesmo, apoucava-se, fabricava mentalmente uma visão acerca de si mesmo que não cabia na realidade. Era algo fantasioso, onde era visto como um ser desinteressante, sem valor, despido de qualquer encanto ou beleza física ou moral. Via-se no espelho como um ser amorfo, sem nenhum tempero. Um homem insoso. Esta forma de se ver lhe paralisava, quase que lhe trazendo um constante pânico de lidar com determinadas situações. E abrir-se com Luciana era uma delas. Tinha medo.

Simples assim: tinha medo! O mantra do temor ressoava internamente e o medo se agigantava. O racional transformava uma simples ligação telefônica em algo imenso, impossível, um obstáculo intransponível. Luciana não queria encontrar-se com ele. Pedro insistiu. Ela foi reticente, mas disse que tentaria. Com grande esforço, Pedro havia insistido. Seria uma despedida e quem sabe até culminaria com um beijo que poderia reacender uma chama apagada no interior de Luciana. Agora o fracasso lhe caía sobre os ombros e devastava-lhe a pouca auto-estima.

Abriu uma garrafinha de uísque que estava sobre o frigobar do quarto de hotel e atirou-se no sofá. Refestelado, tomeu um gole de uísque e disse:

- Eu hei de te esquecer, mas não precisavas ser assim...não precisava ser cruel comigo.

Enxugou as lágrimas que restavam e ligou a televisão em busca de algo para lhe distrair até que caísse no sono.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Poucas e boas

Uma semana alucinante vai chegando ao fim. Hoje vou variar com algumas notinhas curtas, mas boas.

Todos devem saber - mas quem ainda não sabe - que está havendo uma votação mundial para a eleição das 7 maravilhas do mundo. O Cristo Redentor está competindo, então Vote no Cristo. Eu já votei.

Para os paulistanos, neste final de semana ocorre o Grande Prêmio São Paulo, no Jockey Clube de São Paulo. Trata-se de um dos mais importantes eventos do turfe brasileiro. No domingo, exige-se terno e gravata para entrar, mas no sábado a entrada é livre. Paga-se só o estacionamento. Há espaço para as crianças brincarem e se divertirem assistindo os cavalos correrem. Quem nunca foi, é um ótimo programa numa área aberta e segura de São Paulo. Mas se chover, aí a coisa complica.

Por fim, tenho lido todos os comentários e vou fazer um post só comentando os comentários. Aliás, nos blogs que estão linkados (palavrinha meio feia), há alguns tópicos pegando fogo.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Poesia: Pablo Neruda

Uma pausa na correria e deixo-os com Pablo Neruda. Mais um soneto dos Cem Sonetos de Amor, que tão bem retrata como se fala mesmo no silêncio.


15

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, e a minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem voado de ti
E parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
Emerges das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com a minha alma,
E pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando te calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
Claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longínquo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesse morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E estou alegre, alegre de que não seja verdade.

(Antologia Poética. 14a. ed. bilíngue, trad. Eliane Zagury. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1996, p. 44-5).

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Bola de Cristal (2)

O post anterior foi escrito às 8 da manhã. E hoje o dólar derreteu. A bola de cristal está límpida!

E digo mais: o Brasil vai obter o grau de investimento antes do final de 2008. O que isto quer dizer? Que a bolsa de valores vai subir mais e que o dólar vai cair mais.

Quem diria que o salário mínimo iria chegar a 200 dólares no Governo Lula? Este país é uma maravilha!

Bola de Cristal

Com a correria dos últimos dias - ontem nem passei no escritório - tenho escrito pouco. Hoje acordei inspirado e com a corda toda. Talvez sejam as cores da manhã. Manhã fria mas de céu azul em São Paulo.

Vou chover no molhado e falar óbvio: o dólar caiu abaixo de R$ 2,00!

Minha bola de cristal já tinha me dito (basta ter boas fontes) que isto ia acontecer e que o dólar vai cair mais até o final do ano. Hora de torrar a moeda americana ou de planejar umas comprinhas em Miami. Se bem que Buenos Aires é mais perto e os precinhos ficam mais camaradas com o Real forte.

O incrível é que o Governo não tem a menor idéia de como estancar esta queda do dólar. Quem sabe se abaixasse a taxa de juros de verdade? Mas, como visto na entrevista coletiva do presidente Lula ontem, a bola de cristal dele não funciona ou está muito embaçada.

Fica aqui registrada a minha "profecia": o dólar vai fechar o ano abaixo de R$ 1,90!

Dicas da Dani: Skye

Depois do sucesso de um post sobre música, mp3 e rádio pela internet vou iniciar uma nova seção neste blog: Dicas da Dani.

Uma pessoa que adora música e tem sempre ótimas dicas e novidades, sempre renovando meu estoque de músicas. Vamos dar crédito a quem merece e a dica da OI FM foi dela. Então vou dividir com todos os leitores do blog as sugestões musicais. As dicas são dela e os comentários são meus, com uma pitada pessoal sobre músicas e letras. Espero que gostem.

Começamos com Skye. Trata-se do primeiro álbum solo da cantora com o título de Mind How You Go e que vem fazendo grande sucesso na Europa. Trazemos o primeiro single: Love Show, que já toca em rádios brasileiras.

Se quiser ouvir mais, você pode ouvir Solitary e What´s wrong with me no site oficial da Skye.





Espero que gostem da novidade. Agora você pode ler os textos do blog ouvindo música.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Um amigo na estante

A pilha de livros que tinha numa mesinha atrás da minha mesa foi desmontada hoje. Como se fosse um castelo, as paredes compostas por livros jurídicos em português, inglês, espanhol e italiano, desapareceram. Os livros retornaram à sua morada na minha biblioteca. Todos manuseados, folheados e com inscrições à lápis nas bordas das páginas.

Faz alguns anos que comecei a rabiscar meus livros. Sempre à lápis. Pequenos comentários que lanço para lembrar de um ou outro trecho. Ficam silenciosos aguardando que os retire da prateleira e recorra à sua iluminação. Eles estão sempre prontos a ajudar no trabalho profissional ou a trazer uma palavra de alegria, de consolo, de incentivo.

São bons amigos. Não considero os livros seres inanimados. Eles têm vida. Carregam um pouco da vida do autor e modificam a vida do leitor. Sou muito ciumento com meus livros. Certa vez tive uma briga feia com um advogado do escritório pois ele achava que podia levar meus livros para cima e para baixo sem pedir autorização. O cara teve um chilique, mas preferi manter a companhia dos livros a aguentar um ataque de histeria de um bobo.

Não se engane quem acha que os livros não falam. Eles falam sim. Eles retrucam e algumas vezes nos mostram nossos erros, nossas falhas, nossos medos. Ultimamente deposito neles os meus momentos de lazer e reflexão. São eles que me ajudam a caminhar e a continuar, ainda que haja uma pedra no meio da caminho. Com eles, mais esta pedra imprevista será superada.

domingo, 13 de maio de 2007

Dia das Mães

Não poderia deixar de passar em branco este dia, ainda que com um post singelo diante da grandeza de coração, da paciência, da alegria de todas as mães do mundo.

Ser mãe é um constante exercício de sacifício gozoso, cheio de amor, de entrega. Mães jovens ou não tão jovens passam noites em claro, cuidam dos filhos quando são acometidos de alguma doença, dormem ao seu lado quando os filhos pequenos têm medo, ainda que a cama seja de um estrado duro e o colchão fininho e ela saiba que vai ficar com dor nas costas.

Mãe sabe sorrir a todo momento e torce pelo filho num jogo de futebol, ainda que o filho seja o pior jogador do time. Mão sempre tem uma palavra de conforto e alento, ainda que o mundo pareça desabar para o filho e que o chão lhe falte. Mãe sabe mostrar as qualidades e minorar os vícios dos filhos, aumentando-lhes a auto-estima e permitindo que coloquem em perspectiva aquela situação chata na escola em que o amigo pega no pé ou quando a criança vira alvo de gozações.

Mãe é aquela pessoa que o filho tem dificuldade em descobrir o gosto, pois o gosto dela é sempre o gosto dos filhos. Mãe é aquela pessoa que Deus colocou no nosso caminho, com amor incondicional, para amparar-nos durante todos os dias, nos momentos de alegria e nos momentos de tristeza, angústia, depressão. Colo de mãe não tem hora, nem idade: sempre nos revigora, sempre é repleto de carinho, sempre nos empurra para cima.

Sei que escrevo imaginando, pois como pai, nunca vou saber o que é ser mãe. Só posso imaginar. Mas sei que quando fui pai, entendi em sua plenitude o que é ser pai. E continuo aprendendo a cada dia. Entendendo que o sacríficio de um projeto pessoal se justifica examente por ser pai. Tudo isto se releva, todo pesar se minimiza e se justifica pelos filhos.

Acho que agora entendo um pouquinho o que é ser mãe e admiro todas as mulheres que são mães, em especial a minha.

Parabéns Mãe pelo seu dia! E hoje coincidiu com seu aniversário de 60 anos! Sei que sem a mãe que tenho, não seria a pessoa que sou hoje.

Ainda sobre as cores da manhã

Escrvei a última crônica no trânsito de São Paulo, indo de um lugar a outro, aproveitando o silêncio no carro. Qual não foi minha surpresa a ler ontem o pano de fundo do que havia escrito, com a diferença que foi descrito por um grande escritor brasileiro. Só posso concluir que minhas inspirações têm brotado dos lugares certos.

Aqui vai mais um trecho de Diário da Noite Iluminada, de Josué Montello, para matar a curiosidade:

13 de março de 1981.

"Se os dorminhocos soubessem o que perdem por não acordar cedo, não permaneceriam na preguiça da cama, com as cortinas impedindo a claridade nova que vai crescendo no horizonte, e é sempre uma festa de cores por cima do mar. É dessa luz que vem o meu bom humor. A natureza, ao apontar do dia, sempre nos dá, como hoje, a sua mais bela lição: faz a mesma coisa sem se repetir. "

(Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1994, p. 232)

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Crônica: Cores da Manhã


Pouco depois das 6 da manhã Carol estava pronta para sair para uma caminhada no calçadão da praia. Hoje não iria à academia. Algo diferente lhe dizia, naquela manhã, que devia mudar a rotina. Dois quarteirões andando pela Rua Sousa Lima e chegou na Av. Atlântica. De frente para o Leme, abastecida com seu ipod, iniciou mais um dia. O céu avermelhado dava indícios de que o sol brilharia forte num contraste com o céu azul e sem nuvens.

Passos rápidos e ritmo acelerado foi cruzando rostos e pessoas, na maioria idosos que também aproveitavam o clima fresco da manhã. Quantos rostos e quantas pessoas cruzava diariamente? Quantas histórias não contadas? Quantas vidas com seus problemas pessoais e dúvidas? Quantas pessoas com angústias e alegrias? Será que alguém passava pelas mesmas aflições que ela? Quantos eram felizes? Quantos simplesmente passavam pela vida como um barco à deriva, sem rumo, sem direção, apenas existindo? Tudo aquilo embaralhava-se nos seus pensamentos. Carol estava perdida e sabia disto. Por que ele, exatamente ele, num momento e ao acaso havia mexido com ela? Por que agora e não antes? Por quê? As perguntas se repetiam e ela nem reparava na trilha sonora que brotava de seu ipod.

Buscava no ar fresco da manhã, num ímpeto, que todo aquele mistério se desfizesse. Tinha medo de tomar certas decisões e isto a afligia. A incerteza do futuro deixava-a intranqüila. Seria tudo isto apenas uma noite deveras longa ou criações fantasiosas de sua mente criativa? Ela não sabia a resposta.

Ao cruzar a Siqueira Campos, reparou na escultura do Tenente Siqueira Campos. Tantas vezes já havia feito aquele trajeto sem se atentar àquela escultura. Quase uma foto congelada no tempo. O artista havia captado o momento em que o Tenente era alvejado e levado deste mundo. A plasticidade do corpo imóvel, os braços estendidos para trás, os joelhos dobrados projetando o corpo para a frente, a expressão de dor. Num momento, a vida desapareceu daquele homem. Vida breve.

Aqueles segundos de contemplação deram-lhe um senso de brevidade, um senso de que o tempo não é eterno, e não seria eterna sua angústia. Apenas uma travessia e logo o sol voltaria a aparecer, numa nova manhã radiante. Mas tinha pressa, queria voltar a sorrir. Queria voltar a sentir seu coração bater com força e vibração, queria deixar de lado o passado que lhe pesava e arrastava-se.

Seus olhos marejaram. Sentiu saudade de Roberto. Apenas 2 semanas haviam transcorrido desde aquele encontro, mas estava certa de que havia sido o último. Não tinha coragem de ouvir seu coração. Não tinha coragem de enfrentar o passado e criar para si um novo futuro. Deixaria o destino levá-la, por onde o destino quisesse.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Mudança de rota

Planejar nossos caminhos faz parte da vida. Sempre planejei tudo. Talvez até demais e quando os planos não se realizavam, isto me incomodava, irritava. Aprendi a ser mais flexível, a lidar com a imprevisibilidade, com as mudanças repentinas. Aprendi a me adaptar.

Hoje vou fugir do tom normal dos posts. Vou explicar. Em 2005, fui aprovado como aluno do doutorado em Direito Comercial na Universidade de São Paulo. Durante 1 ano e meio fiz os créditos exigidos. No final do ano passado, apresentei meu projeto de tese para ser apreciado por uma banca. Na USP, antes da defesa final da tese, há algo que se chama de Exame de Qualificação. Neste exame a banca, composta de 3 professores, analisa o projeto de tese e avalia se o candidato tem condições de transformar o projeto em uma tese de doutoramento. O meu Exame de Qualificação foi ontem.

Fui reprovado.

Fiquei chateado, claro, mas muito menos do que imaginava. Ainda estou digerindo o assunto e acho que voltarei ao tema em outros posts, mas senti um grande sentimento de alívio. Senti que o tempo que gastei estudando foi muito útil, mas todo este processo havia se arrastado. Não senti paixão pelo que estava fazendo e a falta de paixão se manifestou ontem.

Senti um alívio porque se fosse aprovado iria ter que dedicar grande parte do meu tempo nos próximos 8 meses a escrever minha tese, e portanto, postergar alguns outros projetos pessoais, escrever menos no blog etc. Senti-me libertado de um fardo que não me trazia alegria e vibração mais. Não vou mais perder horas de sono pensando na tese. Não vou mais ficar aflito porque não achei este ou aquele livro. Não vou mais sacrificar horas de lazer pessoal pelos livros. Adoro dar aulas, mas acho que não tenho jeito para pesquisador acadêmico. Pelo menos, não nesta minha fase atual da vida.

Ao ser comunicado da reprovação, a primeira coisa que me veio na cabeça foi: vou poder continuar a escrever sem ter que me preocupar com a tese. Logo em seguida pensei: NADA É POR ACASO! Acredito profundamente nisto e a cada dia percebo como as coisas acontecem por uma razão.

Quando estava no meio do mestrado, tentei converter o mestrado em doutorado direto. Precisava passar numa prova de italiano (hã uma exigência de proficiência em 2 línguas estrangeiras para o doutorado) e fui reprovado. Tirei 4,5 e precisava de 5. Tive plena consiciência naquela época de que o melhor a fazer era obter o título de mestre. Se tivesse convertido, hoje não teria título nenhum. Hoje sou mestre e ontem coloquei um ponto final no meu capítulo doutorado. Pelo menos por enquanto.

Ironia ou não, só tempo dirá a razão das coisas. É, olha o tempo aí de novo rondando nossos posts.

Colcha de retalhos



Notei outro dia, na hora do almoço, que os últimos posts do blog têm tido um tema que os une, como se costurados numa grande colcha de retalhos. Isto aconteceu inadvertidamente. Talvez seja o inconsciente que leva a puxar o fio da meada e une prismas para revelar a complexidade da realidade. Isto já havia acontecido antes quando fiz uma série de posts temáticos. Tratamos da morte e da noite e das ligações entre ambos na literatura. Falamos também da ligação entre a noite e as angústias da vida moderna.

O tema começou com uma crônica sobre a noite, mas na verdade acho que o tempo era o tema de fundo. Tempo de espera, tempo de caminhar na escuridão à espera do novo dia.

Foi com Cecília Meirelles que o tempo me atacou de frente:

Mas a alma é de asas velozes
E o mundo é lento
.”

Quantas vezes queremos que o tempo seja mais veloz? Quantas vezes queremos que o tempo seja mais lento? Eterna insatisfação, mas o tempo é implacável, é breve e escapa-nos. Em momentos difíceis, quando aflige-nos a solidão, a dor, a angústia, o tempo parece congelar, movendo-se a passos lentos. Ponteiros do relógio que deslizam de forma mais suave em câmera lenta. Estes períodos de provação parecem entender a noite que resiste em deixar o dia clarear.

Estes posts formam uma colcha de retalhos sobre o tempo. Creio que as 2 crônicas também tratam do tempo. Relendo-as consigo ver a noite como um momento atemporal. O silencia e a solidão, a ausência de luz tiram-nos o referencial do tempo, até que a luz do dia afaste qualquer devaneio.

A música também nos conduz no tempo. Tempo de memória, tempo de viajar nos pensamentos conduzidos pela memória auditiva.

E tudo isto poderia ser concluído num único momento.

Fiquei contente em perceber a colcha de retalhos. Almoçando sozinho, correndo pela falta de tempo, percebi que esta ausência de tempo havia me levado a refletir exatamente sobre o tempo. Tempo que nos é dado para ser bem usado.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Poesia: ÚNICO MOMENTO



ÚNICO MOMENTO


Um único momento

Talvez segundos ou minutos

Séculos de espera

E num único momento

Tudo se desfez

Escapou por entre os dedos

Fugaz, correu na noite

Num único momento.


Teu beijo não provei

Teu corpo não entreguei

E o sonho puro evaporou na escuridão

Num único momento.


Gravado na memória ficará

Enquanto durarem meus dias

E caminhar os passos lentos

O toque da tua pele

O beijo no teu rosto

O abraço ingênuo

O perfume inesquecível.

Tudo guardado na lembrança

Tudo escrito na memória

De um único momento.


(RLBF - jan/2001)

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Trilha sonora e MP3

Sempre fui muito ligado à música, não como músico, mas como ouvinte. A música reaviva lembranças, serve de fundo para devaneios e lembranças, compartilha momentos felizes e tristes.

Minha vida tem trilha sonora. Basta ouvir uma canção que sou transportado no tempo e no espaço. Mas estava há um bom tempo sem renovar minha trilha sonora, que parecia uma coleção empoeirada. Então, com um empurrãozinho e ótimas dicas, aventurei-me pelo mundo da música em MP3. Comprei um Ipod, baixei o itunes (programa da Apple para organizar as músicas e copiá-las dos CDs para o computador) e emule (programa para baixar músicas da internet).

Descobri Jamie Cullum, Keane, Lifehouse, Coldplay, Mary J. Blige, Maná e outros cantores que nunca tinha ouvido falar. Meu playlist meio antiquado foi renovado e ganhou variedade e atualidade. Tive uma excelente consultora para me mostrar as novidades e que sempre me apresenta coisas novas. E eu adoro uma novidade musical.

Meu gosto musical é eclético e tenho no meu Ipod um pouco de tudo, inclusive funk! Apesar de alguns se surpreenderem, ouço funk no Ipod. Gosto da variedade e de poder apreciar um pouco de tudo, no que se refere à música.

O caderno Link do Estadão desta 2a feira trouxe uma reportagem sobre MP3 e as novas formas de encarar a música nesta era. Hoje não há necessidade de se comprar um CD, basta você escolher as músicas e fazer o download via algum programa específico. Ou então, pode-se comprá-las em alguns sites. Acho que o preço ainda é salgado e acho também que o download via emule não fere a legislação brasileira de direito autoral. Em outras palavras, o download via emule é equivalente ao que fazíamos com as fitas cassete ao gravar uma música do rádio para uso pessoal. A reprodução para uso pessoal não fere a legislação. O que viola o direito autoral é a gravação de música para posterior revenda, ou seja, o ato de comercializar a música. E isto não ocorre com o emule.

Mas voltemos ao assunto. Recentemente, minha consultora recomendou o site da OI FM. Além da excelente seleção musical e de poucos comerciais, a rádio que está disponível para ser ouvida pela internet indica na tela o que foi tocado e o que está tocando. Aparece num quadro o nome do artista, da música e um link para você baixar o ringtone ou comprar o CD (o link leva o internauta ao site buscapé).

Trata-se de uma interessante forma de convergência, pois une-se música e informção sobre a música, facilitando para o internauta o download da música para o seu computador. Eu tinha uma tremenda dificuldade para guardar os nomes das músicas que queria baixar. Agora ficou mais fácil.

Caminhando dia após dia

Continuo a ler um dos Diários de Josué Montello. Ontem, antes de dormir, li mais algumas páginas. A vantagem de um livro de memórias é que os trechos mais curtos, permitem uma leitura pausada, em curtos períodos de tempo, sem que se perca o fio da meada.

Há algo porém que tem me impressionado nesta leitura. Nunca fui muito atraído por livros de memórias, mas recentemente mudei de idéia, mais um conceito revisto aos trinta e muitos anos. Ao ler, tenho tido respostas a dúvidas ou confirmações de coisas que imaginava e que pensei. Trechos relembram meu avô, dando conselhos - claro que mais simplicidade e menos beleza linguística - e falando sobre a vida. A coincidência é que meu avô materno morreu exatamente 16 anos antes que Josué Montello, num dia 15 de março. Abrevio a divagação para transcrever um trecho que ontem li. Um trecho que fala das dificuldades e o que elas nos ensinam, um trecho que mostra a importância de conduzir a vida um dia por vez. Um dia após o outro....sempre.

"31 de dezembro de 1980

Eu próprio, ao refletir sobre os percalços do ano-velho, vejo agora neles a provação que nos faz amar a vida com outra intensidade. Os calhaus do caminho ficaram para trás. Nossa vida nada mais é do que a transformação do dia de hoje em dia de ontem, enquanto esperamos o dia de amanhã. A memória, que tudo recolhe, faz a triagem necessária. O que é bom de lembrar também se chama saudade.

Entretanto, o que vale mesmo, nas tribulações com que a vida nos sacode nos seus abalos císmicos, é a revelação, ou a confirmação, das amizades puras, com as quais se enfeitam as aventuras da própria vida. E essa revelação, ou confirmação não me faltou. No aconchego e no carinho de toda a família. No desvelo com que fui tratado. A começar por minha incomparável companheira."

(Diário da Noite Iluminada. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1994, p. 214)

A semana começa e as páginas estão em branco, prontas para serem preenchidas. Só cabe a nós escrevê-las.

domingo, 6 de maio de 2007

Crônica: Suave Espera

Roberto entrou no quarto do hotel e não encontrou Mariana. O amplo quarto não reveleva sua presença. Ela não estava no banheiro. Uma leve brisa agitou as cortinas e notou a porta da varanda aberta, apesar do intenso temporal que caía naquele tarde. Chuva forte no litoral baiano para brindar o primeiro dia de uma esperada viagem juntos. Chegaram na noite anterior, espiados por uma tímida lua entre nuvens.

Afastou um pouco a cortina, na espreita e recostou a cabeça no batente da porta de correr. Observava Mariana. As pernas esticadas e apoiadas no parapeito da sacada, com os pés a serem banhados pelos pingos grossos da chuva forte. Os longos cabelos presos num coque alto na cabeça e esta apoiada nas mãos com os dedos entrelaçados na altura da nuca. Sua respiração era pausada, relaxada, os olhos fechados respingados com gotículas de água. A pele morena, levemente bronzeada pelo sol, exaltavam a sua beleza natural sem qualquer retoque ou maquiagem. Uma pintura acabada. A idade não se percebia ao contemplar a bela mulher. Não lhe dariam mais que 36 anos, apesar de já ter passado dos 44.

Um certo sentimento de incredulidade tomou conta de Roberto, como se tudo aquilo ainda fosse um sonho. Esperara 8 anos por esta viagem. Sim, 8 longos anos haviam se passado, pacientemente, silenciosamente, por vezes, dolorosamente. Mas o dia havia chegado. E agora, Mariana estava com ele, ao seu lado, nos seus braços, na sua companhia, inteira e exclusiva. Quase levitava de alegria e seu sorriso não era apenas notado no seu rosto, mas penetrava-lhe nas entranhas num sentimento de torpor e felicidade.

- Você está linda! Mais linda do que nunca! – exclamou calmamente para não assustá-la.

- Faz tempo que está aí? – perguntou. – Nem notei. Estava pensando em você e em tudo que aconteceu e agora...o presente....a viagem...nós... – deixou as palavras penduradas no ar.

Suspirou fundo, um suspiro de alívio e de perplexidade. E continuou:

- Como você aguentou tanto tempo, Beto?

Ele tirou os chinelos, puxou uma cadeira, sentou-se ao lado dela deixando a chuva regar seus pés e pernas. Eram duas crianças a brincar com os pés na chuva, esquecidos da idade real que tinham. Olhou-a nos olhos, tudo isto em silêncio e disse:

- Por você esperaria a vida toda! Jamais me cansaria, Mari! Esperar por você nunca me cansou, só nutriu uma esperança de que um dia estaríamos aqui. Juntos. Você vale muito mais que o que todo o meu tempo!

E ele beijou-a. Ela encostou a cabeça no seu ombro e a mão de Roberto procurou a mão de Mariana. Dedos trançados, mãos unidas. E assim, ouvindo a chuva, passaram aquela tarde.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Poesia: Cecília Meireles

4

Não fiz o que mais queria.
Nem há tempo de cantar.
Basta que fiquem suspiros
na boca do mar.

Basta que lágrimas fiquem
nos olhos do vento.
Não fiz o que mais queria
e assim me lamento.

E a minha pena é tão minha,
quem a pode consolar?
Chorava caminhos claros
noutro lugar.

Chorava belos desertos
felizes de pensamento.
Mas a alma é de asas velozes
e o mundo é lento.

(Canções. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2005, p. 150-1)

Já que hoje consegui ficar no escritório o dia inteiro, vou tirar o atraso nos posts. Tenho descoberto Cecília Meirelles com toda sua delicadeza e sensibilidade. Interessante como um poema pode ser lido num dia e não nos dizer absolutamente nada. Em outro dia qualquer, como que atraídos por uma força invisível, deparamo-nos com o mesmo poema e um mundo novo se descortina diante de nossos olhos. Não precisa ser um poema, pode ser aquele livro que sussurra baixinho: "Olha eu aqui! Me compre!"

O mundo é lento e testa nossa paciência. Queríamos que tudo fosse mais rápido, que pudéssemos nos transformar sem esforço, sem enfrentar os defeitos e os erros. Queríamos que num passe de mágica a realidade se transmudasse para os nossos sonhos. Mas o mundo é lento e as almas velozes devem ser pacientes.

Crônica: Uma noite qualquer


A noite me dá coragem. Na quietude, na solidão, banhado pelas estrelas consigo mergulhar no íntimo de minha alma. Deixo aflorar sentimentos e desejos, raivas, vinganças, alegrias e tristezas. Não penso só coisas boas. Sou humano e quantas vezes me vi tentado a implementar planos maquiavélicos que, ao raiar do sol, revelavam toda uma maldade que não tenho. Mas as coisas boas, ganham vigor com o nascer do dia. Nestas horas percebo a minha covardia diante da realidade que surge novamente. A luz do dia revela a minha impotência, meu medo. Medo que não tinha na calada da noite, quando tudo parecia possível.


A noite dispara meu coração que viaja para o lado da pessoa querida. A noite eletrifica minha razão que projeta a imagem de alguém especial. Coração e pensamento, num esforço de corporificar o desejo, de trazer-te para o meu lado, de ter-te nos meus braços num longo e infindável abraço. Quão intruso é meu desejo que fica paralisado, horas na noite, contemplando o infinito na escuridão, diante da lua que sorri. Não, a lua não sorri. É o teu sorriso que se desenha na bela lua a me encantar e acompanhar no devaneio silencioso.


Feitiço noturno qual canto da sereia, mas mais bela, mais morena, mais cândida, mais tudo...

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Sócios e mais sócios

Sociedade é como qualquer relacionamento, com um grande diferencial. A única que une sócios é a grana, o lucro. Se isto falha, tudo desmorona. Na minha vida profissional, atuando como advogado societário, já vi vários tipos de brigas e sacanagens. Mesmo quando há muito lucro, ainda assim as pessoas brigam, e brigam feio.

Certa vez vi um caso de uma sociedade de 2 mulheres de nível que se engalfinharam e rolaram no chão durante uma discussão. O caso foi parar na polícia. Eram sócias de uma escola e os alunos ficaram atônitos.

Tenho um amigo que coleciona sócios. Teve vários e sempre se deu mal. Com o primeiro teve uma briga feroz, que quase levou às vias de fato. Depois teve uma sócia que adorava, até que um dia, descobriu ao acaso – se bem que nada é por acaso e aquele achado foi providencial – um email comprometedor. A sócia querida estava com as malas prontas para montar uma nova banquinha em outras paradas. Tudo armado na calada da noite, desviando clientes, dinheiro e outras cositas más.

Lá foi o meu amigo, iludido, coração partido, deprimido em busca de nova companhia. Olhares se cruzaram, deu aquele clique depois de um pouco de conversa. E como uma paixão arrebatadora, em menos de 2 meses, ela já estava de mudança para o escritório dele. Tudo lindo como amor à primeira vista. No começo, aquela lua de mel. Tudo fresquinho e maravilhoso. Ela trouxe um toque feminino ao escritório. Colocou plantas, quadros, trocou a decoração...enfim, ele todo contente deixava ela fazer tudo e achava tudo lindo, como um casalzinho em lua de mel.

Até que um dia, como qualquer relacionamento, a rotina começou a aparecer e a admiração recíproca tropeçou. Brotaram as idiossincrasias e ele começou a se incomodar com algumas coisas. Coisas banais. Ela começou a reclamar da sandália aberta da secretária, do monitor do computador que não era fininho (estes novos de plasma), do piercing da candidata a estágio, da cor da pasta do arquivo. Tinha também uns deslumbres. “Quero que este escritório seja uma Daslu jurídica!” – dizia de tempos em tempos. O problema é que para isto acontecer precisa ralar muito e botar a mão na massa.

Um certo dia, ela transformou a copa do escritório em um salão de manicure. O cheiro de esmalte perfumou todo o escritório. Aí ele começou a se enervar. O que era relevado, passou a ser motivo de implicância. Depois de apenas 16 meses, ela diz que vai embora. Ele só não pulou de alegria, porque tinha que fazer cara de triste e tentar convencê-la a mudar de idéia. Mas ela se foi, mais uma. Ele ficou aliviado. Havia chegado naquele ponto que tudo irritava-o, como em qualquer relacionamento.

Encontrei com ele outro dia e perguntei:

- Poxa, cara, você teve problema com sócio de novo!

E ele, tranquilamente, como quem troca de namoradinha numa balada:

- Não tinha química. Nem vou sentir a saída dela. Já arrumei outro.

O cara é insistente, tenho que tirar o chapéu, mas vida com sócio é assim: difícil sem eles, difícil com eles.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Feriado com Goya

O dia em São Paulo estava simplesmente impecável. Um daqueles dias de sol vibrante, céu azul sem uma nuvem, mas no clima ameno de outono. Um dia que contribuía para manter o bom humor o dia todo, daqueles que nada pudesse estragar - se bem que tentaram. Depois de alguns dias de ventos e chuvas, a poluição foi-se embora e ar da cidade se tornou mais interiorano, sem o barulho usual do trânsito. A luminosidade do outono, com raios mais inclinados, revela uma nova cor na cidade, e o calor recente mantém as árvores verdes e floridas. Um dia perfeito para curtir a cidade no feriado.

Resolvi ir ao Masp ver a exposição de gravuras de Goya, coleção da Caixanova que pela primeira vez deixa a Espanha. Goya é um daqueles pintores que me marcou na juventude. A forma com que pinta o sofrimento humano em cenas de guerra me marcou. E fui ao Masp para ver a Série Desastres de Guerra. As gravuras estão divididas em séries, com temáticas diferentes.

Ao chegar havia uma pequena fila. Cheguei pouco antes do museu abrir, pois não queria arriscar. Surpreendi-me ao saber que hoje a entrada era gratuita. Fiquei contente por não pagar, mas sabia que ia enfrentar a turba dentro do museu. Como havia chegado cedo, consegui ver tudo que queria. Talvez volte outro dia na hora do almoço com mais calma, pois neste horário o museu é quase vazio, mais parecendo uma igreja de tão silencioso.

De fato, por volta das 12 horas, a fila para ver as gravuras era longa. Isto prova algumas coisas. O brasileiro sabe aproveitar das mostras culturais desde que divulgadas e disponibilizadas a preços acessíveis. Segundo, é preciso educar o visitante para que saiba apreciar o que está vendo. O Masp disponibilizou um belo folheto, em português e espanhol, explicando a mostra. Porém, era fácil ouvir comentários de pessoas totalmente desinformadas. Na Série Desastres de Guerra, uma senhora dizia a outra atrás de mim: "Nossa, estas gravuras parecem cenas de guerra! Que trágico!". Claro que fiquei quieto, mas ela queria cenas bucólicas e campestres, ou talvez bailarinas no estilo Degas? Se a Série era sobre guerra, as gravuras obviamente seriam sobre guerra.

Este exemplo revela a importância dos museus, dos centros culturais, dos recintos de exposições em divulgar e informar o visitante sobre o conteúdo da mostra. Isto faz parte de um processo educativo fundamental para amadurecer o cidadão que poderá usufruir da cultura de forma mais consciente.