sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Palavras sábias



"Uma palavra carinhosa é capaz de aquecer três meses de inverno"

Provérbio Japonês

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Solidariedade com Santa Catarina

Tragédias naturais são tristes e comoventes, mas acabam por trazer à tona a solidariedade do povo brasileiro. Povo que não mede esforços para ajudar quem precisa de auxílio. As chuvas que têm afetado o Estado de Santa Catarina causaram mortes e destruição, criando uma massa de desabrigados que perdeu tudo. Aqueles que sobreviveram, seguem em frente.

É preciso ajudar. Não custa nada dar uma olhada em roupas que não usamos mais e que estão em boas condições. Podem não servir mais para nós, porém, para quem não tem nada, elas são o empurrão e apoio para iniciar o recomeço.

Uma lista de locais para entrega de doações está disponível no UOL.


Para contribuições em dinheiro, transcrevo a informação do blog do Reinaldo Azevedo:

"A leitora Cris, freqüentadora deste blog, faz-me um pedido justo: que divulgue os números das contas correntes abertas pela Defesa Civil de Santa Catarina para receber doações. São eles:

Banco do Brasil – Agência 3582-3, Conta Corrente 80.000-7
Besc – Agência 068-0, Conta Corrente 80.000-0.
BRADESCO S/A - 237 Agência 0348-4, Conta Corrente 160.000-1

O nome da pessoa jurídica é Fundo Estadual da Defesa Civil, CNPJ - 04.426.883/0001-57."

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Crônica: Sorriso

No rosto sisudo, desenha-se um arco invertido. Os cantos dos lábios curvam-se diante da leitura de algumas palavras, qual meia lua no céu profundo e negro. Palavras singelas, mas carregadas de ternura. A tensão natural dos músculos dissipa-se de forma inesperada. O sorriso se alarga. Transforma-se em gargalhada contida. Ri sozinho. Relê aquelas palavras e imagina o sorriso distante que provoca uma onda de alegria. Na metrópole cinza, a aquarela tinge tudo com cor e formas inesperadas. Traços largos do pincel. Cores vivas e vibrantes contrastam com a poluição, o trânsito, o caos diurno da paulicéia em início de dia.

O sorriso transporta para longe aquele motorista. Solitário no carro, o som do riso preenche todos os cantos do veículo. Desliga o rádio e deixa o riso como trilha sonora para começar um dia. Um dia que dá seus primeiros passos de forma surpreendente. Um dia que se inicia inspirado por alguém que dividiu com ele a alegria. E o sorriso belo e cativante. Não há distância, nem obstáculo para um sorriso. Ele viaja pelas ondas do espaço, como uma semente levada pelo vento e vem a pousar no seu rosto. O rosto de um homem sorridente e contagiado pelo feitiço de uma semeadora.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Falando de Museus

A reportagem é da coluna Avant-Première do caderno de Fim de Semana do Valor Econômico. Quem assina é João Bernardo Caldeira e Robinson Borges. Comento no final.

"Cor-de-rosa

A visita aos museus paulistas é um programa majoritariamente feminino. É isso o que constata uma pesquisa do Observatório de Museus e Centros Culturais realizada em 13 instituições de São Paulo. O levantamento mostra que 62% de seus visitantes são do sexo feminino. No Rio, entretanto, um estudo similar identifica que em alguns museus o público masculino chega a ser superior ao feminino.

Fala garoto!

Dos 13 museus de São Paulo investigados pelo Observatório, o Museu de Arte Moderna (MAM) foi o que recebeu público mais jovem, com maior presença de visitantes entre 15 e 19 anos (18,4%) e de 20 a 24 anos (27,7%).

Canudo

A pesquisa verificou ainda que os visitantes de museus têm escolaridade acima da média da população em geral: 79,9% têm ensino superior completo ou incompleto, sendo 14,2% deles com pós-graduação. Na Região Metropolitana de São Paulo, apenas 17% da população têm superior incompleto ou completo."

Sintetizando: quem vai a museu em São Paulo é quem tem maior nível de escolaridade, e por conseqüência, maior poder aquisitivo. Isto pode ser visto como um diagnóstico interessante: há necessidade de maior divulgação dos museus para o público de escolaridade mais baixa. Importa não só divulgar, mas também criar visitas guiadas para explicar mostras e exposições. Muitas pessoas sentem-se inibidas de visitar um museu porque acham que não vão entender o que ali se encontra. A divulgação e a informação poderiam inverter os percentuais de visitantes encontrados na pesquisa.

Outro ponto que parece óbvio: quem tem mais conhecimento e informação, busca sempre mais conhecimento e aperfeiçoamento. Pessoas com nível superior completo ou incompleto são mais curiosas e destemidas na busca de cultura. Trata-se do "consumidor" tradicional de cultura, em todas as suas versões. É este o público que lê, que ouve música, que visita exposições de arte, que vai a museus.

A pesquisa mostra que a disponibilidade de cultura existe para toda a população, mas muitos se desinteressam por ela. Uma ampla campanha de divulgação nas escolas públicas, por exemplo, poderia atrair um novo público aos museus, que por sua vez, teria sua curiosidade aguçada. Este "despertar" da curiosidade pode conduzir o jovem a continuar seus estudos e buscar mais informação. A democratização da cultura tem uma contribuição fundamental na criação de um círculo virtuoso de aumento da escolaridade da população brasileira.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Pinacoteca: estímulos visuais

Maria Bonomi, gravura de 1971


Fundada em 1905, a Pinacoteca do Estado de São Paulo é o museu de arte mais antigo da cidade e um dos mais importantes do país. Seu acervo tem cerca de oito mil obras com ênfase na arte brasileira dos séculos XIX e XX. Apresenta 40 exposições por ano sobre as mais variadas expressões das artes visuais de artistas nacionais e internacionais e oferece atividades aos mais diferentes diferentes perfis de público.

Adentrei na Pinacoteca pela primeira vez na minha vida no dia de ontem. Sim, demorei 37 anos para descobrir um tesouro de São Paulo. É vergonhoso? Muito, mas reparei o erro em tempo. Talvez seja tão grave quanto um carioca da gema que nunca tenha ido ao Pão de Açúcar. Muitas vezes desconhecemos as jóias de nossas cidades por simples esquecimento. Ontem, feriado por aqui, não posterguei a visita. Pinacoteca e Museu da Língua Portuguesa numa tacada só, com direito a um café parte externa da Pinacoteca no Parque da Luz.

A área está completamente restaurada e inclui a Estação da Luz, a Sala São Paulo e a Pinacoteca. Um museu maravilhoso, a começar pelo prédio restaurado e que é inundado pela luz natural, realçando os pátios internos e as obras que ali se encontram. Atualmente, há uma retrospectiva de Maria Bonomi denominada Gravura Passageira, uma mostra de fotografias em preto e branco de Voltaire Fraga (Abundante Cidade - Dessemelhante Bahia), mais obras de Eliseu Visconti, Julio Landman, Cristina Iglesias e Leonardo Raimo.

Tem-se uma sensação de constante estímulo visual e mental ao percorrer as salas e corredores da Pinacoteca. Visões diferentes, artistas que usam materiais variados e expressões artísticas ímpares. A cada sala e a cada mostra, algo de surpreendente é despertado. Não é à toa que há um sem número de pessoas que visitam a Pinacoteca de fora de São Paulo. É um passeio excelente que não poderia ser adiado mais. Eu tinha que ir. E adorei.

O ingresso custa R$ 4,00 para adultos. Crianças com menos de 12 anos não pagam. A mostra de Maria Bonomi fica até o dia 7 de dezembro.

Ah, a gravura de Maria Bonomi que ilustra este post não foi tirada na Pinacoteca.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Só tinha de ser com você

Em véspera do único feriado do semestre, um pouco de bossa nova na voz de Paula Lima, interpretando "Só tinha de ser com você", de Tom Jobim.



Só tinha de ser com você

É, só eu sei
Quanto amor eu guardei
Sem saber que era só prá você

É, só tinha de ser com você
Havia de ser prá você
Senão era mais uma dor
Senão não seria o amor
Aquele que a gente não vê
O amor que chegou para dar
O que ninguém deu pra você

É, você que é feita de azul
Me deixa morar nesse azul
Me deixa encontrar minha paz
Você que é bonita demais
Se ao menos pudesse saber

Que eu sempre fui só de você
Você sempre foi só de mim

Que eu sempre fui só de você
Você sempre foi só de mim

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Via Appia


VIA APPIA, de Cecília Meirelles.


Pedras não piso, apenas:

- mas as próprias mãos que aqui as colocaram,

o suor das frontes e as palavras antigas.


Ruínas não vejo, apenas:

- mas os mortos que aqui foram guardados,

com suas coragens e seus medos da vida e da morte.


Viver não vivo, apenas:

- mas de amor envolvo esta brisa e esta poeira,

eu também futura poeira noutra brisa.


Pois não sou esta, apenas:

- mas a de cada instante humano,

em todos os tempos que passaram. E até quando?


(Canções. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2005, p. 78-9)

Abraço a brisa da vida, envolvendo-a com amor e transformando cada instante em algo humano. Este "algo" humano que se manifesta em coisas singelas, em pequenos momentos de compreensão – ainda que não se expresse a necessidade de um abraço ou de um colo -, em gestos e sorrisos, em toques no ombro, em abraços apertados, em sorrisos desinteressados, em beijos no rosto, em segurar as mãos sem contar os segundos ou minutos, em correr atrás de uma borboleta, em levantar uma criança do chão para que ela posse ver mais longe, em agradecimentos desnecessários, em lágrimas que escorrem despertadas por aquela música – ou aquele texto -, em sonhos que nos visitam nas horas mais silenciosas...


O humano é dimensão da nossa dignidade única e incomparável. O humano está na nossa essência, que muitas vezes olvidamos ou afogamos. "Pois não sou esta, apenas: / - mas a de cada instante humano, / em todos os tempos que passaram. E até quando?" Somos a soma destes incontáveis instantes humanos, capazes de mudar uma vida e todas as outras que tocamos com nossa humanidade.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Solidão Dissipada





"O destino costuma estar na curva de uma esquina." (p. 188)


"Mas os anos passaram em paz. Quanto mais vazio está, mais rápido o tempo passa. As vidas sem significado passam ao largo como trens que não param na estação." (p. 354)


(A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón.)


Vazio. Desprezo. Esquecimento. Todos estes sentimentos poderiam descrever a solidão, sem, porém, captar toda a sua dor. A solidão é árida como um deserto, fria como uma paisagem gelada, invisível como o ar. A solidão é um punhal que se aprofunda na carne a cada movimento, a cada dia, a cada gesto. A solidão transforma o silêncio em algo ensurdecedor, como se a música mais odiosa estivesse ligada no mais alto volume. A solidão definha, amarfanha, corrói todo o ser.


O vazio trazido pela solidão leva a um caminhar sem rumo. Passamos a ser passageiros sentados num banco do ônibus indiferentes à paisagem que nos rodeia e entregues ao destino que o condutor nos traça. O ponto final da jornada pode chegar quando o ônibus pára; ou podemos despertar do transe ao olhar para fora da janela do veículo e captar um brilho. Uma luz que emana de um olhar de um transeunte, de alguém que ao acaso encontra-se na curva de uma esquina. O destino nos arrebata e fulmina de morte a solidão.


O campo árido, regado pela chuva, rejuvenesce e brotam os primeiros sorrisos que dissipam a solidão. Drummond, com toda sua lucidez de interpretar a vida e os sentimentos, escreveu:


"Onde não há jardim, as flores nascem de um
Secreto investimento em formas improváveis
."


Formas improváveis trazidas pelo destino. Um sorriso. Um pingo de luz notado num olhar sincero. Uma palavra carinhosa. Um simples cumprimento que nos valoriza, que nos revela que somos notados e importantes. Um sotaque aparentemente irritante se transforma em música para os ouvidos. Música que mexe com alma. Voz que mexe com o coração. Palavras que seduzem. Risos que inebriam, contagiam, que se multiplicam em dias, meses, anos...momentos inesquecíveis, rememorados nas horas de escuridão e aflição.


A solidão se dissipou. Tudo obra mágica de alguém que estendeu a mão e conduziu-me para fora do ônibus. Tudo obra de um coração precioso, de uma alma iluminada, de uma semeadora de sorrisos.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Anistia e Retrocesso – Parte 2

Certa vez recebi um cliente indiano em São Paulo. Ele vinha ao Brasil pela primeira vez e perguntou-me se havia violência religiosa no Brasil. Respondi de forma negativa. Aquela pergunta fez-me pensar na questão social brasileira e suas características peculiares. No Brasil, convivem em paz judeus e muçulmanos, católicos e protestantes, brancos e negros, além de toda uma gama enorme de imigrantes que adotaram este país como sua morada. Não estou negando a existência de violência ou preconceito nas várias camadas sociais brasileiras, mas a violência existente nas grandes cidades é semelhante à que existe em toda grande cidade do mundo.

Se voltarmos aos anos 1960 e 1970, período mais intenso da ditadura militar, notaremos que o modus operandi da ditadura era diferente da que existiu em outros países latino-americanos. No Chile e na Argentina, os tempos de ditadura foram muito mais agressivos e violentos do que no Brasil. Muitos foram torturados e mortos pelos respectivos regimes. Brasileiros morreram no período da ditadura, mas em número significativamente menor do que nestes outros países. Foi uma época negra da história que foi cicatrizada com a Lei de Anistia.

A Lei de Anistia, ampla e irrestrita, permitiu indenizar as famílias das vítimas, apaziguou ânimos e fechou feridas. O tempo encarregou-se de tornar a cicatriz quase imperceptível, sem necessidade de uma cirurgia plástica. Passados 30 anos, alguns ministros do atual Governo tentam reabrir estas feridas. Trata-se de um erro grave, de uma postura equivocada que dividirá o país de forma desnecessária.

A tortura é um crime abjeto, hediondo e covarde. Tortura motivada por objetivos políticos tem o agravante de desconsiderar integralmente a liberdade de pensamento e de expressão. Por outro lado, o terrorismo também se enquadra na categoria de crimes hediondos. Grupos armados tentavam derrubar o Governo, e o Governo tentava destruir os grupos armados de tendência esquerdista. A luta armada nunca foi a melhor solução e sempre ocasionou, ao longo da história, inúmeras mortes e perdas. A Anistia visava pacificar este conflito social e virar a página para permitir a construção de um novo tecido social e consolidar uma jovem democracia.

Participei da primeira eleição direta para presidente em 1989. Votei naquela eleição. Votei em todas as outras eleições desde aquela época. Aqueles que hoje defendem a revisão da Lei de Anistia foram eleitos graças ao sistema democrático e pluralista vigente no Brasil. Não foram eleitos a força, nem tomaram o poder com base em armas. Revisitar o passado é reabrir feridas cicatrizadas.

Não se trata de olvidar um período da história; trata-se de analisá-lo com a frieza e a distância que o tempo permite.

O tiro pode sair pela culatra, pois o que propõem Tarso Genro, Ministro da Justiça, e Dilma Roussef, Ministra da Casa Civil, é aplicar penas a torturadores, como se a Lei de Anistia não os atingisse. Ora, se os crimes de tortura são imprescritíveis e a Lei de Anistia não os atingiu, os crimes de terrorismo também são imprescritíveis. Desta feita, seria necessário processar todos aqueles que participaram de ações armadas terroristas, tais como Dilma Roussef, José Genoíno, Franklin Martins, Fernando Gabeira, entre muitos outros.

O parecer da Advocacia Geral da União, que afirmou que a anistia é ampla e irrestrita e aplica-se aos dois lados da luta, foi atacado pelo Ministro da Justiça. Não me surpreendi quando o Presidente Lula resolveu ficar em cima do muro e não manifestar sua opinião. Triste omissão. Como chefe de estado, sua função seria tomar uma posição de liderança e de manutenção da ordem e da união dos brasileiros. Mas, não, ele novamente calou-se diante de tema da maior relevância.

A posição esboçada por Tarso Genro e Dilma Roussef indica de forma inequívoca que são políticos que não evoluíram na forma de pensar, com posições revanchistas e retrógradas. Admiro a trajetória de Fernando Gabeira. Hoje Deputado Federal, quase eleito Prefeito do Rio de Janeiro, Gabeira revela lucidez e clareza na forma de analisar a realidade brasileira. O passado é o passado e é preciso olhar para o futuro. Revirar o passado em nada acrescenta para o progresso do país e para o desenvolvimento da sociedade brasileira.

Deixemos as feridas cicatrizadas, sigamos em frente com coragem para enfrentar os milhares de outros problemas mais urgentes e relevantes que afetam os cidadãos deste país.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Anistia e retrocesso - Parte 1

A discussão sobre a revisão da Lei de Anistia ganhou as primeiras páginas dos jornais. Apesar de evitar os temas políticos ultimamente neste blog, não posso deixar de opinar sobre o tema. Analisarei o tema em 2 partes para ampliar a reflexão.

Este primeiro post reproduz um texto do Reinaldo Azevedo, publicado em seu blog. Infelizmente, devido a problemas no leitor de feeds, o link é do blog e não do texto especificamente.

"OS REVANCHISTAS BRASILEIROS, A ANISTIA E CUBA

O cubanófilos brasileiros — e o maior de todos eles, como sabemos, é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva — querem revogar a Lei da Anistia. Apenas para um dos lados, é claro. Aqueles que aplicaram a Manual da Guerrilha, de Carlos Marighella, continuariam por aí — ou melhor: por lá. Alguns dão expediente no Palácio do Planalto. O manual de Marighella fazia a defesa do terrorismo. Segundo a Constituição brasileira, terrorismo é crime imprescritível.

A lambança em relação ao assunto obedece ao jeito petista de fazer as coisas. Começou com os ministros Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos), um tanto modestamente. De saída, ninguém comprou a tese porque, afinal, a Lei da Anistia é clara e tem uma historia política, comprometida com a pacificação do país. Eles insistiram. O PT chegou a divulgar uma nota dizendo que não era o caso de rever nada. A tese da dupla ganhou alguns simpatizantes na imprensa — os isentos de um lado só, velhos conhecidos. O parecer da Advocacia Geral da União (AGU), que só cumpriu o seu dever técnico — até Tarso admite isso —, assanhou os “vitimistas” de plantão, alguns deles usuários práticos do manual do bom terrorista de Marighella.

Lula estaria pressionando a AGU por um parecer “neutro”, já que a questão acabará mesmo sendo decidida pelo STF. Se isso acontecer, AGU pra quê? Que seja substituída pelo Magistrado-em-chefe: o próprio Apedeuta.

Mas volto ao primeiro parágrafo. Apedeutakoba, que deixou prosperar esse debate bizantino, lembrou de pedir a Barack Obama o fim do embargo a Cuba. Embutiu a sua reivindicação nas primeiras palavras de saudação ao presidente eleito dos Estados Unidos. Lula quer uma espécie de “anistia” histórica para o regime criminoso de Fidel e Raúl Castro sob o pretexto de que está defendendo os interesses do sofrido povo cubano. O embargo, hoje, já não tem efeito pratico nenhum. A ditadura e a miséria em Cuba são obras dos facínoras que a governam e nada tem a ver com o dito-cujo. Seu fim, sem a exigência da contrapartida democrática, seria admitir a tirania como aceitável.

Não! Os cubanófilos não querem saber de anistia política em Cuba. Tampouco de condenar torturadores — porque, claro, teria de começar pelo seus dois maiores homicidas: Fidel e Raúl Castro. Ao contrário, não é? Lula está empenhado em garantir a sobrevida da ditadura desses dois humanistas, que são 2.700 vezes mais homicidas — considerando-se os mortos por 100 mil — do que a ditadura militar que houve no Brasil.

Assim, segundo os critérios do PT, as 424 (¹) mortes havidas durante a ditadura brasileira fazem os facínoras, mas as 95 mil (²) havidas em Cuba fazem os heróis. Essa gente pouco séria tem, no entanto, de ser levada a sério. E combatida.

***
(1) Os números não são meus. Estão no livro Dos Filhos Deste Solo, do petista Nilmário Miranda. Mas atenção! Pessoas mortas ou desaparecidas efetivamente ligadas a organizações de esquerda somam 293 (ver lista abaixo), incluindo guerrilheiros e terroristas que morreram de arma na mão e quatro justiçamentos (esquerdistas executados pelos próprios “companheiros”). Para se chegar a 424, incluem-se supostos casos, mas sem comprovação. A lista é esta:
ALN-Molipo – 72 mortes (inclui quatro justiçamentos)
PC do B – 68 (58 no Araguaia)
PCB – 38
VPR – 37
VAR-Palmares – 17
PCBR – 16
MR-8 – 15
MNR – 10
AP – 10
POLOP – 7
Port - 3

(2) Fidel mandou matar em julgamentos sumários 9 479 pessoas. Estima-se que os mortos do regime cheguem a 17 000. A fonte: O Livro Negro do Comunismo. Dois milhões de pessoas fugiram do país – 15% dos 13 milhões de cubanos. Isso corresponderia a 27 milhões de brasileiros no exílio. Dados esses números, Fidel matou, pois, 130,76 indivíduos por 100 000 habitantes; Pinochet, o facínora chileno, 24; a ditadura brasileira, 0,3.

O Coma Andante é 435,86 vezes mais assassino do que a ditadura brasileira, que encheu de metáforas humanistas a conta bancária de Chico Buarque. A história dirá quem foi Fidel? Já disse! Permaneceu 49 anos no poder; no período, passaram pela Casa Branca, lá no "Império" detestado por Niemeyer, dez presidentes!Atenção: 78 mil pessoas morreram afogadas tentando fugir de Cuba. Sair de lá, como sabem, era e é proibido. Assim, o regime de Fidel matou 95 mil pessoas — o que torna o tirano 2.700 vezes mais assassino do que a ditadura brasileira. "

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Barcelona enevoada



Terminei de ler A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón (Rio de Janeiro : Objetiva, 2007). Estava meio sem rumo na leitura até que este livro me foi recomendado. E recomendado por quem foi, levei muito a sério a indicação. Mas, quando notei que iria enfrentar 399 páginas, confesso que fiquei com preguiça, torci o nariz e fingi que o livro não me olhava com aquele ar de tentação. Lembrei-me das palavras entusiasmadas e apaixonadas sobre o livro e criei coragem.


Fazia tempo que não lia uma estória tão cativante. As páginas se sucederam rapidamente e não queria que o livro acabasse. Era quase como se não quisesse deixar de ter notícias de Daniel Sempere e de sua livraria, e de seus livros e aventuras.


O best-seller vendeu mais de 6,5 milhões de exemplares em todo o mundo e é sucesso de vendas no Brasil também. A Sombra do Vento foi finalista dos prêmios literários espanhóis Fernando Lara (2001) e Llibreter (2002). O primeiro romance de Zafón, O Príncipe da Névoa, foi laureado com o prêmio Ebedé de literatura em 1993. Recentemente, O Jogo do Anjo foi lançado no Brasil, que é seu mais novo romance.

Voltemos ao assunto, ciente de que este será o primeiro post sobre o livro. Introduzir o assunto, porém, era necessário.

A estória se passa em Barcelona, entre os anos 1945 e 1966. Uma cidade açoitada pelo final da 2a. Guerra Mundial e pela Guerra Civil Espanhola. Um período violento e intolerante, um período que destroçou vidas e esperanças, mas que fez renascer destas cinzas a vibração de uma nova jornada.

Zafón utiliza a cor e a descrição do ambiente como um referencial importante ao longo da obra. Há um clima melancólico que permeia toda a narrativa, quase que reproduzindo a foto que estampa a capa do livro. Cinza, névoa, escuridão, frio, garoa. Lembrei-me de O Mar, de John Banville (vide o post Cores Gris). O artifício não é meramente poético e retórico, mas conduz o leitor a explorar o contexto histórico em que se situa a narrativa. O clima reflete a penúria, a dureza dos tempos de guerra.

Poderia ser melancólico, pessimista, porém, ocorre exatamente o inverso. Na aparente aridez, descobre-se a amizade intensa. Vive-se a lealdade e o companheirismo. Daniel, protagonista da estória, e Fermín Romero de Torres formam uma dupla inseparável. A amizade dos dois contrasta com a amizade de Daniel e Tomás Aguilar.

No primeiro caso, Daniel, seja por caridade ou por retribuição, tira Fermín de sua condição sub-humana de morador de rua. Não se trata de um malandro aproveitador, mas de uma alma que exala gratidão infinita para com o gesto de Daniel, a ponto de sacrificar-se - fisicamente - pelo amigo.

No segundo caso, a timidez de Tomás e o temor que tinha do pai criam um corte na relação de amizade que não seria capaz de cicatrizar mesmo com o passar do tempo.

Terminei o livro com a sensação de que Zafón quis discorrer sobre a amizade em suas mais variadas formas. E o instrumento para unir pessoas, ou separá-las, é um livro. Mas isto é tema para um próximo post.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Gastrossexuais

Parece que o mundo moderno adora rotular as pessoas. Quer sejam categorias criadas por publicitários para vender e divulgar seus produtos a um determinado segmento, ou criativos pesquisadores que adoram inventar moda, sempre aparece uma notícia explicando o surgimento de um novo grupo de pessoas.

"A pesquisa do instituto britânico Future Foundation, feita com mil homens no Reino Unido, mostra que 48% dos entrevistados dizem que ser capaz de cozinhar os torna mais atraentes para as mulheres", publicou a Folha de São Paulo em reportagem de 12 de outubro de 2008. Segundo explica a reportagem, o homem que cozinha passa uma imagem menos machista, menos preconceituosa e mais carinhosa. A explicação psicológica tem lá seu fundamento, mas vejo isto de um ponto de vista diferente.

Hoje em dia, as pessoas estão mais independentes. O homem moderno tende a assumir um papel mais participativo, mais colaborativo nas tarefas domésticas, tanto no aspecto da paternidade, como no aspecto da vida individual. Independência significa saber escolher suas roupas, a cuidar dos filhos, a cuidar de algumas tarefas domésticas. O novo homem age de forma diferente da geração dos seus pais.

Homens que moram sozinhos, por exemplo, tem que lavar e muitas vezes passar suas próprias roupas; vão ao supermercado e preparam suas refeições; cuidam da aparência, sem descambar ou ficar horas na frente de um espelho com cremes. A febre dos metrossexuais parece ter ficado para traz, então agora surgem os gastrossexuais.

Porém, há uma outra característica de gostar de cozinhar. Não se trata de usar a culinária para "fisgar" as mulheres, mas sim de uma atividade manual e sensorial que apetece aos sentidos e relaxa a mente.

Pessoalmente gosto muito de cozinhar. Não só de ir para a cozinha, mas de toda a preparação, da escolha dos alimentos, de planejar um cardápio, de ser criativo, de cortar e lavar os alimentos. Cozinhar é um hobby, um contraponto à atividade intelectual do meu trabalho diário. Cozinhar é um exercício que explora os sentidos e a criatividade de criar de algo inesperado, de surpreender-se com a mistura dos temperos e ingredientes.

Meu avô, sujeito nascido no interior de São Paulo, era um cozinheiro de mão cheia. Quando criança, ele costumava me levar ao supermercado com ele para escolher os ingredientes e depois preparar o almoço. Era um divertimento familiar, um elo de ligação entre gerações. A afinidade, a cumplicidade daqueles momentos ficaram guardadas com carinho. Convivi pouco com meu avô, pois ele morreu quando eu tinha 6 anos, mas aqueles instantes de convívio permanecem vivos na memória.

Rótulos são desnecessários e incabíveis para estas situações. Talvez funcione para os ingleses, mas acho muita invencionice. O homem muita vezes aprende a cozinhar por necessidade e por exigência das condições de vida, onde a mulher trabalha fora, ou então, para aqueles que moram sozinho. Com rótulo ou sem rótulo, a experiência de cozinhar é enormemente prazerosa. E deve ser prazerosa também - principalmente - para quem saboreia os pratos.

domingo, 2 de novembro de 2008

Crônica: Fio de Luz





FIO DE LUZ



A insônia tinha-o impedido de descansar durante a noite. Dormiu mal. O rádio-relógio marcava 5 e alguma coisa. Não conseguiu reconhecer a hora exata pois a vista ficava embaçada sem os óculos. A casa ressoava um silêncio que era apenas interrompido pelo barulho de um ou outro ônibus que passava pela rua. Ao longe, ouviu um pássaro solitário a cantar e aquele som deu-lhe a certeza de que o dia nasceria em breve.

Deitado de costas, olhava fixamente para o teto do quarto completamente escuro. A ansiedade da conversa que teria no final do dia roubou-lhe o sono. Sentia-se cansado, a cabeça levemente pesada, como se tivesse bebido muito na noite anterior. Pelo contrário. Recolheu-se cedo na companhia de um livro. Leu poucas páginas. Releu as páginas pois não havia prestado a mínima atenção. Seus pensamentos oscilavam e divagavam. Lia, sem compreender, sem se atentar para a história. Foi tolo, pois naquelas linhas poderia ter encontrado um pouco de paz ou um exemplo a seguir. Poderia ter descoberto a coragem que necessitava. Poderia ter achado um fio de luz para iluminar a escuridão de sua mente confusa, das palavras que lhe escapavam e teimavam em se embaralhar, impedindo-o de organizar as idéias e de saber o que dizer a ela.

Virou-se para a janela. Um fio de luz atravessava uma pequena fresta da janela entreaberta. Fez-se o desenho de uma linha reta e iluminada na parede branca do quarto. A luminosidade da manhã trouxe consigo a luz. Como um encantamento, seu olhos seguiam a reta que se revelava e aparecia para quebrar a escuridão da dúvida que lhe assolava. Tudo clareava e passava a fazer sentido, como se aquela pequena fresta trouxesse consigo o código para desvendar sua alma.

Sentou-se na cama, esfregou os olhos, aproximou os joelhos do peito e abraçou as pernas. Aquele fio de luz era um presságio. Percebeu que tinha todo um dia pela frente e que falar o que pensava e sentia não podia ser adiado. Não havia porque perder mais noites de sono, de remoer o passado, de cultivar angústias, de nutrir sentimentos e inseguranças. Era preciso tomar uma decisão, fazer uma loucura e seguir. Sim, era preciso abrir mais que uma fresta da janela, mas escancará-las. Arrombá-las com força e deixar jorrar o sentimento e as palavras guardadas no seu âmago, palavras que corroíam seus órgãos e matavam-no lentamente, qual poderoso e doloroso veneno. O medo o aprisionava. Aquele fio de luz cortou as amarras, como uma lâmina de navalha. Naquele instante, descobriu dentro de si uma coragem inimaginável.

Não iria esperar até o jantar. Iria esperar o relógio marcar uma hora decente, pegaria o telefone e ligaria para ela. Era chegado o momento de não titubear. Respirou fundo, transparecendo alívio e um sentimento interior de profunda certeza. Ele teve a certeza, pela primeira vez na vida, de que era hora de atirar-se e falar.